“Dentro de casa”, de François Ozon

francois ozon dans la maison

Uma situação transparente: um professor de francês (Fabrice Luchini) que incita o seu aluno mais talentoso (Ernst Umhauer) a persistir na sua escrita, apurando-a e depurando-a. E uma transparência que se complica: sendo o tema das redações em causa a vida de uma família (de um outro aluno), será que aquele que escreve inventa as peripécias que vai revelando? E que sentido faz o professor favorecer uma lógica de observação que parece estar a passar para o lado mais inquietante do voyeurismo? Ou ainda: onde acaba aquilo que o aluno descreve e começa o delírio especulativo do próprio professor? Grande tragédia, como é fácil perceber… O que quer dizer que “Dentro de casa” é uma das mais estranhas e festivas comédias que descobrimos em tempos recentes. Fiel ao seu gosto de dinamitar as regras dos mais diversos géneros clássicos (lembrem-se desse maravilhoso musical não alinhado que é “8 mulheres”), François Ozon cria uma espécie de ritual verdade/mentira cujo ponto de fuga é, afinal, o próprio poder de qualquer narrativa. Mais do que isso: somos levados a reconhecer que a construção social do real não é um simples exercício de “descrição” mas, precisamente, um labor sempre ligado ao ofício de narrar. De riso ligeiro e contagiante, este é também o mais grave dos filmes.

João Lopes

18 julho [estreia nacional]
filme “Dentro de casa” [“Dans la maison”], de François Ozon, com Fabrice Luchini, Ernst Umhauer, Kristin Scott Thomas,…
Leopardo Filmes, 2012 / 2013

 

texto no Sound + Vision

 

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