“Ferrugem e osso”, de Jacques Audiard

capa jacques audiard ferrugem e osso

Em outubro de 2012, por altura do lançamento de “Ferrugem e osso” nas salas britânicas, numa entrevista ao jornal The Guardian, Marion Cotillard falava do fascínio que sentiu de imediato pela sua personagem, Stéphanie, que perde ambas as pernas num acidente num parque aquático. Diz ela que Stéphanie “não sabe porque vive, não sabe porque respira”. Por causa do acidente? Não: antes do acidente. Na sua cruel ternura, esta observação pode resumir um dado vital do cinema de Jacques Audiard (recordemos o emblemático “De tanto bater o meu coração parou”): a chave simbólica de uma tragédia individual não está, obrigatoriamente, naqueles momentos que identificamos como mais brutais ou intensos. Aliás, no caso de “Ferrugem e osso”, dir-se-ia que o próprio acidente é filmado como algo para o qual não existe qualquer imagem precisa ou “reveladora”. Em boa verdade, o que está antes e o que vem depois são elementos da mesma demanda existencial: como é que Stéphanie se reconhece no seu próprio corpo? Revisto em dvd, “Ferrugem e osso” parece explicitar a sua insólita dimensão de reportagem intimista, quase um “home movie” – dir-se-ia que Audiard mais não faz do que documentários sobre os seus (admiráveis) atores, celebrando o cinema como a arte metódica de revelar os acidentes que ninguém viu.

João Lopes

dvd “Ferrugem e osso” [“De rouille et d’os”], de Jacques Audiard, com Marion Cotillard, Matthias Schonaerts,…
Leopardo Filmes, 2012 / 2013

 

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