“Crowded solitudes”, de Eric Revis Trio

capa eric revis trio crowded solitudes

A experiência futurista, a premência vanguardista, o imperativo exploratório do desconhecido são, no jazz, matérias primevas, combustíveis seminais. Mais do que um indisfarçável enlevo por alguns dos mais inauditos recantos dos anais jazzísticos, há na música de Eric Revis um indisfarçável enlevo por alguns dos mais inauditos recantos dos anais da modernidade e do devir jazzísticos. Com a singularíssima tenacidade poética das teclas (e das cordas e dos pedais e das restantes peças) do piano de Kris Davis e com a ambivalência articulatória dos distintos bateristas que por este seu trio têm passado (Gerald Cleaver neste recentíssimo “Crowded solitudes”, como os inveterados mestres Andrew Cyrille – no igualmente louvável “City of asylum”, editado pela Clean Feed em 2013 – e John Betsch – na digressão que no mês passado debutou com um avassalador recital na Culturgest de Lisboa, seguindo daí para a Parede, Braga, Portalegre e mais umas quantas cidades europeias), o contrabaixista tem vindo a edificar peculiares milagres de combinação rítmica desconstrutiva e especulativa. São três identidades percussivas díspares q.b., e em cada uma há mil histórias, soluções e infinitos – completam-se ouvindo-se e multiplicando-se mutuamente. Uma lição modelar de jazz holístico, como um prodigioso fenómeno uníssono, inextrincável, inabalável.

Bruno Bènard-Guedes

disco “Crowded solitudes”, de Eric Revis Trio
Clean Feed, 2016

 

texto originalmente publicado no Jornal de Letras n.º 1188, de 13 abril 2016

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