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“Wild man dance”, de Charles Lloyd

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Legando, 30 anos depois de “A night in Copenhagen”, um segundo disco ao tombo (no duplo sentido…) da Blue Note, a universalidade monástica do jazz ascético de Charles Lloyd faz confluir nesta suite de seis movimentos o drama e a eloquência meditativa transversais às primevas fundações do lavor por si desenvolvido desde 1989 na ECM, permitindo-nos o acesso particularmente cúmplice e feliz à mais recente epifania na sua contínua jornada de sublimação anímica e mística pela música. Volição de uma encomenda do polaco Jazztopad Festival, “Wild man dance” celebrou, há um par de anos, a primeira década desse programa de concertos, bem como as sete décadas e meia de vida do compositor, chegando agora ao suporte discográfico o registo dessa hipnótica estreia. Comungando do dispositivo primordial de tempo e espaço sónico do saxofonista – onde cada gesto se permite indagar, especular e consubstanciar os sons que somente a sua alma canta -, o piano assaz ambivalente de Gerald Clayton, a bateria de Gerald Cleaver, o contrabaixo de Joe Sanders, a lira grega de Sokratis Sinopoulos e o cimbalão magiar de Miklós Lukács, ensemble que enfatiza a panorâmica comunitária e holística deste corpo de blues expressionista metamorfoseado em espírito de inefável sonância, lírico e selvagem, cogitabundo e emotivo, elíptico e exótico, introspetivo e metafísico. Primitivo e visionário – ou seja, atemporal. Agora. Para sempre.

Bruno Bènard-Guedes

disco “Wild man dance”, de Charles Lloyd
Blue Note / Universal, 2015

 

texto originalmente publicado no Jornal de Letras n.º 1166 de 10 junho 2015

 

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