Doodles

“Alloy”, de Tyshawn Sorey

Advertisements

Há uma lacónica originalidade no modo como o compositor e multi-instrumentista (de predominante ocupação percussionista) opta por lidar com a poesia tácita do subconsciente do jazz, permitindo-lhe acrescentar uma dimensão erudita que parte de ensinamentos de Morton Feldman, Karlheinz Stockhausen, Claude Debussy, Christian Wolff, Bela Bartok ou Alban Berg, seus assumidos abonos, rumo ao cosmos das possibilidades infinitas do amor entre o som e o silêncio. Mas onde é exatamente que se patenteia o milagre formal, anímico e filosófico de uma obra como este “Alloy”? Não tanto na música que Tyshawn Sorey compõe, mas na música que compõe Tyshawn Sorey. Através destas peças, ouvimo-lo a examinar, a cogitar, a indagar, a questionar, a arguir, a acurar, a burilar, a criar. A evoluir. E a fazer a música evoluir. A economia holística com que educa os seus sons e os leva a esculpir o espaço e o tempo das suas composições é quase tudo. O resto fica a cargo da honestidade e da disciplina que devota ao processo de conversão das mais complexas perguntas nas mais frugais respostas…

Bruno Bènard-Guedes

disco “Alloy”, de Tyshawn Sorey
Pi Recordings / DistriJazz, 2014

 

texto originalmente publicado no Jornal de Letras n.º 1162 de 5 abril 2015

Advertisements

Advertisements