“Morning phase”, de Beck

capa beck morning phase

“Morning phase” é um hino a doutrinas diversas, a sonoridades de origens divergentes, que formam elos improváveis numa cadeia de sons que representa o nosso século. Dá um novo fôlego à palavra “clássico”, num misto de influências e de um sem número de referências palpáveis, inventariáveis no terreno que se estende entre Nick Drake, Simon & Garfunkel e o Neil Young mais bucólico. Uma colossal abertura, com “Cycle” e “Morning”, e uma solidez que acompanha todas as faixas fazem deste trabalho uma compilação de tons que projetam para o futuro, para um longínquo espaço de continuidade que os tempos de agora não podem oferecer. Beck antecipou, outrora, o corte e a colagem que caraterizam tanta da música da contemporaneidade com o trabalho vanguardista que o definiu. Os anos 90 representaram o palco ideal para este ecletismo precoce que viria a ser, nas décadas seguintes, a chave de sucesso iconoclasta imbuída na cultura pop. Agora, mergulha numa sincronia, parecendo resguardar-se e, simultaneamente, superar-se numa lúcida atemporalidade que pede um recomeço por parte do mundo, um novo início de verdade, harmónica simetria depois do caos da viragem do século. Através do pastiche holístico, continua a revelar-se, a decompor-se e a (re)compor-se, criando subtis hologramas sonoros e cenários formais absolutos com cada trabalho que tenta conciliar-se com um presente que quase sempre o sucede.

disco “Morning phase”, de Beck
Capitol Records / Universal, 2014

 

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