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“Quando tudo está perdido”, de J.C. Chandor

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Com apenas duas longas-metragens, pode dizer-se que J. C. Chandor tem já uma essencial linha de força a definir o seu universo criativo: o espaço da ação, física ou conceptual, revela-se potencialmente infinito. Assim, em “Margin call” (“O dia antes do fim”, 2011), Chandor encenava as atribulações iniciais da atual crise financeira, fazendo-nos pressentir a assustadora paisagem virtual da circulação do dinheiro. Agora, com este “All is lost”, consegue refazer uma matriz minimalista das histórias de sobrevivência — um homem à deriva no Oceano Índico —, que se vai transfigurando num fascinante exercício de revelação. Num duplo sentido: revelação da possibilidade de superar todos os padrões de resistência física e anímica; revelação de uma transcendência que, não sendo exatamente religiosa, reconhece a hipótese redentora do sagrado. No cerne da questão surge a esplendorosa solidão de Robert Redford: aceitando expor-se na vulnerabilidade do seu próprio envelhecimento, o ator vai adquirindo a monumentalidade de um ícone capaz de transcender, também ele, as coordenadas de qualquer história.

João Lopes

6 fevereiro [estreia nacional]
filme “Quando tudo está perdido” [“All is lost”], de J.C. Chandor, com Robert Redford
Zon, 2013 / 2014

 

texto no Sound + Vision

 

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