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“O Clube de Dallas”, de Jean-Marc Vallée

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Um dos aspetos mais singulares da interpretação de Matthew McConaughey em “O Clube de Dallas” é, naturalmente, a transfiguração física a que a sua personagem o obrigou. É mesmo possível “medir” tal transfiguração: o ator perdeu nada mais nada menos que 23 quilos para interpretar Ron Woodroof (e há quem se tenha lembrado que Robert De Niro engordou 27 para, em 1980, protagonizar o “Touro enraivecido” de Scorsese…). Quanto mais não seja para contrariar a lógica pitoresca com que o cinema é muitas vezes encarado nos meios de comunicação, importa acrescentar, com inevitável ironia, que a proeza de McConaughey não está exatamente no peso que perdeu, mas sim no facto de, em tal processo, não ter perdido a própria personagem. Porque é essa a questão fulcral do filme de Jean-Marc Vallée: a de apresentar e representar Woodroof como um ser vivo cujo papel histórico nos primeiros tempos do combate médico contra a sida — em particular favorecendo o acesso a determinados medicamentos cuja circulação estava a ficar bloqueada no labirinto da burocracia estatal — não pode ser separado do seu perfil de texano conservador e, em particular, dos seus traços homofóbicos. Podemos mesmo resumir “O Clube de Dallas” como um admirável retrato psicológico de Woodroof, desde a negação do seu estado clínico (quando sabe que é portador do VIH) até à construção de uma complexa rede de cumplicidades afetivas. Decididamente, a psicologia redescobriu a sua riquíssima herança e deixou de ser uma palavra secundária no melhor cinema americano.

João Lopes

16 janeiro [estreia nacional]
filme “O Clube de Dallas” [“Dallas Buyers Club”], de Jean-Marc Vallée, com Matthew McConaughey, Jared Leto, Jennifer Garner,…
Zon, 2013

 

texto no Sound + Vision

 

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