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“A vida de Adèle, capítulos 1 & 2”, de Abdellatif Kechiche

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Ninguém sabe se Abdellatif Kechiche irá filmar os capítulos 3 e 4 da história de Adèle (Adèle Exarchopoulos) e Emma (Léa Seydoux). Em todo o caso, o título assinala a questão radical do filme. A saber: esta é uma narrativa que não caminha para um fim, mas que se vai instalando como uma história impossível de acabar. Aquilo que Kechiche coloca em cena é, justamente, esse caráter insensato do amor, não como um vírus efémero que contamina os corpos, antes como uma doença sem solução que dilui as fronteiras entre os corpos e as suas almas. Godard disse-o no seu descarnado “Je vous salue Marie” (1985): “Quero que a alma seja corpo.” É bem provável que Kechiche não se reconheça como discípulo godardiano, mas é essa mesma intensidade que ele filma: nas águas de um realismo radical, “A vida de Adèle” acede às regiões de uma espiritualidade que congrega as perplexidades e o desencanto do nosso tempo. Dizer que estamos perante uma belíssima história de amor é pouco – importa acrescentar que a sua beleza já não é deste mundo. E que isso é matéria do medo.

João Lopes

28 novembro [estreia nacional]
filme “A vida de Adèle, capítulos 1 & 2” [“La vie d’Adèle, chapitres 1 & 2”], de Abdellatif Kechiche, com Adèle Exarchopoulos, Léa Seydoux,…
Leopardo Filmes, 2013

 

texto no Sound + Vision [ 1 ]

texto no Sound + Vision [ 2 ]

 

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