Doodles

“O conselheiro”, de Ridley Scott

Advertisements

A cena passa-se entre o advogado (Michael Fassbender) e um especialista em diamantes (Bruno Ganz). O primeiro quer comprar um diamante para oferecer à namorada (Penélope Cruz). E convém dizer que esta é uma daquelas histórias em que o fascínio do objeto lapidado arrasta um prenúncio de tragédia. O próprio vendedor resume tal assombramento, aplicando estas palavras: “Celebrar a beleza da amada é reconhecer de uma só vez a sua fragilidade e a nobreza dessa fragilidade. Na nossa atitude mais nobre, anunciamos às trevas que não nos deixaremos diminuir pela brevidade da nossa existência.” Podemos falar desta sonoridade preciosa (não são apenas as pedras que podem ser preciosas…) através de uma pergunta didática: em cinema, quem é que ainda se atreve a escrever diálogos destes? Pois bem, a resposta é: Cormac McCarthy. O autor de romances como “All the pretty horses”, “The road” e “No country for old men” assina o argumento de “O conselheiro” como quem refaz o espírito primitivo do noir, investindo a palavra como matéria com tanto de carnal como de mitológico. Atento a dádiva tão preciosa (decididamente, a luxúria anda por aqui…), Ridley Scott filma tudo isso como um apocalipse dos sentimentos , tendo por pano de fundo a velocidade do mundo moderno e os seus cenários habitados pela nostalgia impotente do romantismo. Dito de outro modo: esta é uma fábula cruel sobre a vertigem do dinheiro e a irrisão de qualquer utopia. Ou ainda, se nos colocarmos na perspetiva do mercado dos diamantes: a brevidade da nossa existência.

João Lopes

21 novembro [estreia nacional]
filme “O conselheiro” [“The counselor”], de Ridley Scott, com Michael Fassbender, Javier Bardem, Cameron Diaz, Penélope Cruz, Brad Pitt, Bruno Ganz,…
Big Picture, 2013

 

Advertisements

Advertisements