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“Abelhas e homens”, de Markus Imhoof

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Eis uma curiosa interrogação cinematográfica: como seguir o movimento das abelhas? Graças à sofisticada evolução de câmaras e objetivas, Markus Imhoof pode dar uma resposta de espetacular exuberância: desde as tarefas da polinização até aos rituais no interior das colmeias, passando pelos voos com inusitadas conotações eróticas, parece não haver nada que o cinema não possa registar. Seja como for, tais proezas só adquirem toda a sua pertinência se as ligarmos a um outro movimento: o do dinheiro. “Abelhas e homens” está longe de ser um documentário de rotina sobre uma noção abstrata, porventura idílica, de natureza. Bem pelo contrário, aquilo que Imhoof filma é mesmo a destruição dos ciclos naturais das abelhas por toda uma série de opções de natureza económica, capazes de transformar os insetos em elemento descartável de uma globalização que encara o planeta como cenário funcional dos mais cruéis ciclos financeiros. No limite, “Abelhas e homens” deixa uma perturbante dúvida filosófica: a natureza existe, ou não passa de uma configuração cultural e económica em permanente recomposição simbólica? É uma pergunta reveladora da complexidade política que, hoje em dia, pode caraterizar algumas das mais interessantes apostas da área documental.

João Lopes

10 outubro [estreia nacional]
filme “Abelhas e homens” [“More than honey”], de Markus Imhoof
Alambique, 2012 / 2013

 

texto no Sound + Vision

 

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