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“Camille Claudel, 1915”, de Bruno Dumont

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Um retrato da escultora Camille Claudel (1864 / 1943) e da sua doença mental? Uma evocação do seu internamento, desde 1913 até à morte? Nada disso. Este não é um telefilme “biográfico”, mas um objeto de celebração dos poderes realistas do cinema. Desterrada num asilo, nos arredores de Avignon, Camille vive uma solidão tão radical (e Juliette Binoche representa-a num despojamento tão desarmado) que algo em nós pede a atribuição de alguma “culpa”. A sua instabilidade comportamental foi vivida num crescente ensimesmamento, a ponto de questionarmos a sageza do irmão, Paul Claudel, legitimando a permanência de Camille naquele santuário pouco redentor. Em boa verdade, o filme de Bruno Dumont não nos oferece nenhum “culpado” que, por assim dizer, resgate a nossa revolta. “Camille Claudel, 1915” não procura repor a ordem do mundo (qual?…), optando antes pela contemplação, fria e implacável, da acumulação do tempo. 1915 está no título e é, de facto, o seu “tema”. Que é como quem diz: a nitidez com que o calendário aproxima os incautos humanos da data irreversível da morte. De Deus, diria, talvez, o irmão Paul.

João Lopes

20 junho [estreia nacional]
filme “Camille Claudel, 1915” [“Camille Claudel, 1915”], de Bruno Dumont, com Juliette Binoche, Emmanuel Kauffman,…
Leopardo Filmes, 2013

 

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