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“Tristeza e compaixão”, de Marcel Ophüls

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Eis um daqueles casos em que, de facto, o dvd desempenha um papel ativo de “compensação” para a perda de memória que, todos os dias, se promove em muitos espaços televisivos (por vezes, a repetição incessante de “memórias” pitorescas é mesmo um instrumento perverso dessa perda). Ironia a reter: “Tristeza e compaixão” foi feito como objeto de televisão, em 1969, vindo a estrear nas salas, em 1971, porque a ORTF – na altura, o organismo gestor dos dois canais do Estado francês – o considerou demasiado parcial (só em 1980 chegaria ao pequeno ecrã). Marcel Ophüls promove, afinal, um exercício de luminosa pluralidade: a evocação da França ocupada pelas tropas alemãs (1940 / 1944) cruza as imagens de todas as origens com os testemunhos do presente, numa dialética em que, no limite, todos os “papéis” históricos estão eivados de ambiguidade. Em termos ideológicos, o reconhecimento da agressão nazi não exclui, assim, a discussão de uma dinâmica social e política que esteve muito longe da noção mítica de uma “resistência” de “toda” a França. A herança pedagógica de “Tristeza e compaixão” é modelar: as imagens nunca são meramente “reproduzidas”; fazer história é também inventariar os seus movimentos narrativos e transfigurações simbólicas.

João Lopes

dvd “Tristeza e compaixão” [“Le chagrin et la pitié”], de Marcel Ophüls
Alambique, 1969 / 2012

 

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