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“Amor”, de Michael Haneke

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A certa altura, no “making of” que integra a edição em dvd de “Amor”, vemos Michael Haneke interromper o registo de um plano para corrigir a posição de uma janela entreaberta… De tão simples e determinado, o gesto não pode deixar de revelar o rigor de toda uma mise en scène.  Por isso mesmo, o impacto do filme não pode ser reduzido à gravidade do seu “tema”. Claro que o retrato do par de idosos confrontado com a súbita nitidez da morte nos toca de forma contundente, muito para além daquilo que conseguimos verbalizar ou escrever; em todo o caso, tudo passa pela geometria de um espaço que vamos descobrindo através da sensação, fascinante e perturbante, de que talvez estejamos a mais. Haneke é, em última instância, um paciente arqueólogo dos limites, físicos e intelectuais, das próprias relações humanas. Daí a sublime presença de Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant, vivendo perante a câmara a verdade muito física de um realismo sem transigências. Daí também a importância das janelas e da luz cuja presença ajudam a desenhar.

João Lopes

dvd “Amor” [“Amour”], de Michael Haneke, com Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert,…
Leopardo Filmes, 2012 / 2013

 

texto no Sound + Vision

 

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