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“4:44, último dia na Terra”, de Abel Ferrara

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Dir-se-ia que Abel Ferrara nunca tem a visibilidade que merece. É o preço a pagar por ser imprevisível. Ironicamente, o seu trabalho mais recente, joga com a ilusão da previsibilidade. A saber: o mundo vai acabar… Assim mesmo, sem ambiguidades: está nas notícias e o televisor ligado no apartamento onde tudo se passa não se cansa de avisar as duas personagens centrais e os espetadores. A sugestão de ficção científica cedo recua (ou avança?) para as matrizes mais austeras do melodrama, e a espera vivida pelo par de “4:44, último dia na Terra” – Willem Dafoe e Shanyn Leigh – vai-se transfigurando na mais primitiva tragédia bíblica. Quais Adão e Eva esquecidos no seu refúgio de Manhattan, eles revivem a dilacerada questão nuclear de todo o cinema de Ferrara: como é que um homem e uma mulher se encontram, ou perdem, nesse bailado afetivo em que se julgam o espelho um do outro? Digamos que, mesmo depois de o mundo acabar, Ferrara não desistirá de encenar a sua perplexa dor. Não vamos sair daqui.

dvd “4:44, último dia na Terra” [“4:44, last day on Earth”], de Abel Ferrara, com Willem Dafoe e Shanyn Leigh
Alambique, 2011 / 2012

João Lopes

 

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