“Nos sonhos começam as responsabilidades e outras histórias”, de Delmore Schwartz

capa delmore schwartz nos sonhos comecam as responsabilidades

Poeta de exceção, criador de alguns dos mais emblemáticos contos que vibram por ter Nova Iorque como cenário, voz rigorosamente ímpar da moderna literatura americana, Delmore Schwartz (1913 / 1966) pode ser lido ou relido através de “Nos sonhos começam as responsabilidades” e do conjunto de seis outras histórias exemplares que nesta edição se agregam. Uma imprescindível estreia deste imenso autor no mercado editorial português, numa coletânea com prefácio assinado por Lou Reed.

livro “Nos sonhos começam as responsabilidades e outras histórias”, de Delmore Schwartz
Guerra & Paz, 2012

 

João Lopes:
No prólogo e na introdução, respetivamente, o crítico Irving Howe e o escritor e editor James Atlas sugerem que o fulgor da poesia de Delmore Schwartz talvez tenha ofuscado para sempre a riqueza dos seus trabalhos em prosa. Não por recalcamento, entenda-se. Antes porque os seus contos, mesmo os mais famosos (a começar pelo que empresta o título a este volume), parecem imbuídos de um caráter precário que lhes confere a dimensão ambígua, calculadamente “imperfeita”, de crónicas sociais contaminadas pelas digressões típicas dos panfletos filosóficos. Mais do que isso: há neles o sentimento paradoxal – que Howe e Atlas remetem para as contradições existenciais daqueles que, como Schwartz, eram filhos de emigrantes judeus – de alguém que contempla o seu destino como um misto de determinismo cruel e angustiada liberdade. “Nos sonhos começam as responsabilidades” é mesmo construído como um perverso jogo de espelhos, com o narrador a viver a história atribulada dos pais como se fosse a intriga do filme a que assiste, numa sala de Brooklyn, num domingo de 1909… Incluindo, entre outros, “América! América!”, “O mundo é um casamento” e “O discurso do dia da formatura”, esta é uma antologia preciosa para (re)descobrirmos um autor que prenuncia e sistematiza algumas essenciais linhas de força da moderna literatura americana. Como escreve o seu aluno Lou Reed, logo na abertura do prefácio, resta-nos a mágoa da memória: “Ó Delmore, que saudades tenho de ti”.

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