O título vem de Walt Whitman e a teatralidade do trabalho musical, lírico e gráfico da eletrizante idiossincrasia que a ambos é comum (e que St. Vincent tanto apreendeu com as lições deste imanente gigante da música de arte popular). “Love this giant” surge três anos depois do primeiro contato de David Byrne e Annie Clark — em 2009, no contexto da coletânea “Dark was the night” —, e após as sucessivas colaborações que daí resultaram, como a participação da cantora no disco “Here lies love”, esse espantoso esboço lírico de uma ópera pop que em 2010 Byrne lamentavelmente optou por partilhar com as acéfalas soluções eletrónicas do produtor Fatboy Slim. Este é um álbum que se apresenta como assumidamente dramático, de pequenas narrativas sobre os cataclismos, as formas desproporcionadas e os mistérios da natureza (como nas enigmáticas “The forest awakes” e “I am an ape”), e simultaneamente como périplo pelos espaços vibrantes da cidade (atente-se, a título de exemplo, em “Dinner for two”). O pano de fundo: poéticas orquestrações de declarado pendor rítmico, com trompetes, tubas, trompas de um som despudoradamente metalizado, a evocar as grandes fanfarras de New Orleans, que se fundem com os ruídos urbanos da pop, do funk (celebrados a meias com os imaculados The Dap-Kings e Antibalas Afrobeat Orchestra em “The one who broke your heart”) e com o fuzz a que St. Vincent já nos habituou. Em “Who?”, a primeira e uma das mais viciantes peças aqui dispostas, Byrne e Clark perguntam: “Who shouts out Hallelujah / Who’s gonna sing out loud / Carry these men and women? / Who get lost when the sun goes down?”. Aparentemente, sem respostas encontradas nestas dimensões, o ciclo termina, e a jornada lança-se a outros eixos, em direção à matéria galática, onde o espaço e o tempo se suspendem.
disco “Love this giant”, de David Byrne e St. Vincent
4AD / Popstock, 2012
