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“Muriel ou o tempo de um regresso”, de Alain Resnais

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Quando o passado irrompe no presente, instaura-se o caos – sobretudo se esse passado trouxer traumas, desilusões e mágoas. “Muriel ou o tempo de um regresso” é uma estrondosa e perturbadora reflexão de Alain Resnais sobre um passado que regressa ou uma memória dolorosa que insiste em não partir. Resnais é, por excelência, o cineasta do tempo e da memória e desse jogo que se define entre uma suposta linearidade cronológica e a vivência do tempo própria de cada personagem. Em “Muriel ou o tempo de um regresso”, cada um dos protagonistas vive numa ordem temporal que é sua, e que insiste em ser afetada, perturbada pela persistência da memória. Hélène é uma antiquária (e a ironia da loja de antiguidades não é de modo algum casual…) que vê o seu passado regressar quando Alphonse, o seu grande amor da juventude, volta inesperadamente para o seu convívio, acompanhado por uma jovem aspirante a atriz que se faz passar por sua sobrinha. Bernard, o enteado da protagonista, é um ex-soldado atormentado pelas memórias da guerra da Argélia e pelo fantasma de uma jovem mulher – Muriel – que ajudou a matar. Figura enigmática e algo paradoxal, Bernard procura documentar todo o processo que conduziu à tortura da rapariga que, pela recordação, insiste em manter viva. O passado, cruamente interrompido pelo trauma, que Resnais replica nos cortes bruscos e nas cenas deixadas em suspenso, eclode no presente para fazer isso mesmo: suspendê-lo. “Muriel ou o tempo de um regresso”, produzido em 1963, logo após essas outras sublimes reflexões sobre a memória que são as obras primas “Hiroshima, meu amor” (1959) e “O último ano em Marienbad” (1961), é uma obra crucial da filmografia de Alain Resnais que em boa hora a Clap Filmes disponibiliza no mercado nacional de dvd.

dvd “Muriel ou o tempo de um regresso” [“Muriel ou le temps d’un retour”], de Alain Resnais, com Delphine Seyrig, Jean-Pierre Kérien,…
Clap Filmes, 1963 / 2011

 

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