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“MM3”, de Metá Metá

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Rigorosamente tudo o que aqui se faz ressoar se patenteia como instintiva tensão telúrica, impressionista energia primitiva, iconoclasta profundidade ancestral – tudo como numa intangível fantasia ritualística e epifânica. Ou seja, rigorosamente nada aqui é ruído (no senso sónico, como no senso comunicacional…), tudo é transe, catarse, ascese. Um paradigmático trilho polifónico gradativamente mais dinâmico, pulsante, vibrante, febril, que se alenta seguindo por labirintos hermenêuticos e inquisitivos exponencialmente infinitos. O vigor da economia orquestral intensifica-se com as consecutivas audições, até desvelar a medula deste jazz dissoluto e apócrifo, de extrema densidade pletórica, quase selvagem, quase opressivo, quase disforme, no estratégico ponto de confluência com distintas raízes percussivas e espirituais afrobrasileiras e uma capciosa atitude punk funk. Dorido. Herético. Hermético. Críptico. Crítico. Cético. Feral. Negro. Como a África que lhes rege os propósitos. Como a Bahia cruzada com São Paulo que lhes fortalece as ações. Como a alma que lhes politiza o desígnio holístico desta apoteótica combustão musical.

Bruno Bènard-Guedes

disco “MM3”, de Metá Metá
metametaoficial.com.br, 2016

 

texto originalmente publicado no Jornal de Letras n.º 1195, de 20 julho 2016

 

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