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“Destination: Void”, de Peter Evans Quintet

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Que movimento é o traçado pelo quinteto de Peter Evans neste “Destination: Void”? Que percurso é desbravado com essa intangível tramontana em vista? Que gesto nos permite aderir a tão irredutível rota? Que fenómeno nos traduz a sua perceção de “vazio”? Praticamente tudo nesta música segue o curso da especulação e de uma revelação exponencialmente infinita, enigmática e ambígua identidade expressionista em assombrada decomposição e desintegração rumo ao vazio – a um vazio de dogmas, de axiomas, de postulados, de heranças, de preconceitos, de estereótipos, de ortodoxias, de estigmas,… Diplomaticamente virulenta e ascética, marcial e frondosa, delirante e espartana, a pulsão sónica que aqui se experimenta ergue-se no cerne do itinerário congregador do triunfante devir patrimonial que se vem escorando a partir da originalíssima energia estética da trompete do norte-americano – que, logo desde as notas inaugurais, faz questão de firmar que é o hipnótico centro totémico da ação, capaz das mais inusitadas soluções, reinventando o seu propósito melódico e “rítmico” – e seus veneráveis cúmplices: o baixo de Tom Blancarte, a percussão de Jim Black, as eletrónicas de Sam Pluta e o piano de Ron Stabinsky. O futuro do jazz recomeça aqui.

Bruno Bènard-Guedes

disco “Destination: Void”, de Peter Evans Quintet
More Is More Records / import. Flur, 2014

 

texto originalmente publicado no Jornal de Letras n.º 1157 de 4 fevereiro 2015

 


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