Doodles

“Lese Majesty”, de Shabazz Palaces

Advertisements

Ishmael Butler é aquilo a que se pode chamar um veterano. Há três anos, o lançamento discográfico “Black up” (Sub Pop) marcou a estreia em formato longo do seu projeto Shabazz Palaces, para quase de imediato se tornar, com surpreendente unanimidade, um marco na história recente do hip hop, já de si sobejamente enriquecida por sucessivas tentativas de reinvenção do seu cânone. No entanto, o legado de Butler remonta ao início da década de 90, comandando o trio Digable Planets, que, na sua fusão inovadora de jazz e hip hop, viria a inspirar toda uma nova vaga de produtores e bandas cujas tendências musicais extrapolavam as destes dois géneros. É sob o peso desta herança que nos surge agora “Lese Majesty”. Se, depois de mais de uma década de quase silencioso anonimato, em “Black up” se perscrutavam ainda ecos das anteriores criações, ainda que num molde consideravelmente mais eletrónico, experimental e futurista, este novo álbum é a confirmação da capacidade de reinvenção do duo de Butler com Tendai Maraire: contrariando quaisquer dogmas que se têm cristalizado a respeito do hip hop, “Lese Majesty” serve-se da ilusória ausência de ordem como diretriz de criação, e de uma miscelânea de inusitadas influências para a constituição de um imaginário musical único. A desorientação sónica que inicialmente nos assola mais não é do que a estranheza perante um exercício que se exprime num código estético em tudo inesperado, iconoclasta, desafiante, visionário, igualmente devedor de uns Clouddead ou de uns Animal Collective. Um álbum que não tem medo de expor quem está por trás dele, com todo o excesso, caos e intensidade de quem faz da necessidade de expressão uma responsabilidade e um modo de vida.

disco “Lese Majesty”, de Shabazz Palaces
Sub Pop / Popstock, 2014

 

Advertisements

Advertisements