“Os sete magníficos”, de John Sturges, e “Trinitá, cowboy insolente”, de E. B. Clucher

capa john sturges the magnificent seven

A desagregação conceptual do western, porventura o mais genuíno dos géneros do classicismo americano, é indissociável do fim do “studio system” que, nas décadas de 1930/40/50, gerou os seus títulos mais nobres. Curiosamente, tal processo envolve contaminações várias de outros universos criativos e, em boa verdade, de outros continentes. “Os sete magníficos” (1960) e “Trinitá, cowboy insolente” (1970) constituem duas referências emblemáticas que nos ajudam a repensar o que aconteceu. O primeiro, organizado a partir de uma linha narrativa tradicional — uma pequena comunidade da fronteira Estados Unidos/México ameaçada por um “senhor da terra” e defendida por um grupo de heróis erráticos —, colhe a sua inspiração no épico “Os sete samurais” (1954), de Akira Kurosawa, cujo papel no reconhecimento internacional do cinema japonês, em particular no mercado americano, foi decisivo. O segundo pode simbolizar o derradeiro estertor do chamado western spaghetti, prolongando através da caricatura as componentes do sub-género italiano que, ao longo da década de 60, tinha gerado algumas centenas de títulos (a começar pelos filmes monumentais de Sergio Leone com Clint Eastwood) que constituíram um impressionante fenómeno comercial e de culto nos ecrãs de toda a Europa.

capa e b clucher lo chiamavano trinita

Décadas depois, a ligeireza feliz de ambos os filmes surge-nos como uma espécie de antecipação perversa do pós-modernismo: no caso das proezas de “Os sete magníficos”, abrindo caminho para as muitas formatações do género que, a partir daí, se transferiram maioritariamente para o espaço televisivo; nas aventuras burlescas de Trinitá — cuja dupla de intérpretes, Terence Hill e Bud Spencer, entrou para a mitologia popular —, dispensando qualquer contextualização histórica, limitando-se a explorar uma lógica anedótica cuja candura rapidamente se esgotaria em repetições pouco imaginativas. Há uma nostalgia risonha nestes reencontros, tanto mais insólita quanto sabemos que a exuberância criativa que aqui encontramos se revelaria um evento de frágil futuro.

João Lopes

dvd “Os sete magníficos” [“The magnificent seven”], de John Sturges, com Yul Brynner, Steve McQueen, Eli Wallach, Charles Bronson, James Coburn,…
Pris, 1960 / 2013

dvd “Trinitá, cowboy insolente” [“Lo chiamavano Trinità…”], de E. B. Clucher, com Terence Hill, Bud Spencer, James Coburn,…
Pris, 1970 / 2013

 

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