Doodles

“A mentira de Armstrong”, de Alex Gibney

Advertisements

No imaginário corrente do desporto, sobretudo na sua expressão televisiva e com inevitável destaque para o futebol, quase tudo se reduz a uma dicotomia simplista: de um lado a galeria dos “vencedores”, do outro a multidão dos “vencidos”… Pode dizer-se que, com as suas sete vitórias no Tour de France (1999 / 2005), o americano Lance Armstrong foi um protagonista de eleição de tal paisagem mediática. Quando regressou para tentar um oitavo triunfo, depois de um interregno de quatro anos, o documentarista Alex Gibney quis acompanhá-lo, testando a sua invulgar resistência através de uma celebração especificamente cinematográfica. O certo é que os acontecimentos viraram-se contra o ciclista e, em última instância, o próprio cineasta – durante a rodagem, ficou a saber-se, sem margem para equívocos, que todas as vitórias de Armstrong tinham sido obtidas sob o efeito de substâncias ilícitas. Que fazer? Eis uma interrogação desportiva que, aqui, se duplica num dilema cinematográfico. Gibney revela a serenidade e a inteligência que lhe permitem compreender que não se fazem documentários contra o fluxo da verdade, mesmo quando aquilo a que damos esse nome mágico de “real” parece revoltar-se contra qualquer modelo previsto de perceção, descrição e avaliação. Daí que “A mentira de Armstrong” seja, em grande parte, um filme sobre a revisão e releitura das próprias imagens de consagração de Armstrong, nessa medida, mesmo na máxima contundência crítica, rejeitando qualquer forma de desumanização do seu protagonista. Afinal de contas, se “o real não conta histórias” (de acordo com o axioma genial de Christian Metz), importa sabermos assumir a nossa responsabilidade na tarefa de as contar.

João Lopes

14 novembro [estreia nacional]
filme “A mentira de Armstrong” [“The Armstrong lie”], de Alex Gibney, com Lance Armstrong, Reed Albergotti,…
Columbia, 2013

 

Advertisements

Advertisements