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“Como um trovão”, de Derek Cianfrance

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É verdade que o título português encontra a sua justificação nos diálogos do filme, mas é pena que o sentido geográfico do original – “The place beyond the pines” – se tenha perdido. Sobretudo porque se trata de aludir a uma geografia que, no limite, para além das evidências de qualquer mapa, é sempre interior. Mais do que isso: essa interioridade, sendo emocional, é também eminentemente social, já que, uma vez mais, Derek Cianfrance filma as convulsões de uma América distante das convenções correntes do entertainment ou do glamour (o seu filme anterior, “Blue valentine”, também não teve melhor sorte entre nós, tendo sido intitulado “Só tu e eu”). Há muito tempo não víamos, em tal contexto narrativo, uma tão elaborada e perturbante teia moral. “Como um trovão” é a história cruzada de um artista de feira, especialista do “poço da morte” (Ryan Gosling), e um polícia (Bradley Cooper) que o persegue. Insolitamente, aquilo que parecia ser um dispositivo tradicional do género policial, transfigura-se num complexo processo de transferência de afetos e culpas. Trabalhando na corda bamba de um realismo sempre seduzido por derivações excessivas (operáticas, apetece dizer), Cianfrance confirma-se, assim, um herdeiro muito direto da lógica romanesca de um autor clássico como Vincente Minnelli – é uma herança pesada, mas ele tem a humildade de seguir o seu trajeto sem ceder à ilusão pueril da “cópia”.

João Lopes

19 setembro [estreia nacional]
filme “Como um trovão” [“The place beyond the pines”], de Derek Cianfrance, com Ryan Gosling, Eva Mendes, Ray Liotta,…
Zon, 2013

 

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