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“O meu maior desejo”, de Hirokazu Kore-eda

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Podemos não ter um conhecimento regular da produção japonesa. O certo é que alguns exemplos soltos nos vão permitindo perceber que há uma impressionante herança, temática, estética e ética, cuja singularidade prevalece em autores contemporâneos como Hirokazu Kore-eda. Essa herança tem um patrono: Yasujiro Ozu (1903 / 1963). E um núcleo temático: a família. Mais especificamente: a família vista a partir do olhar dos filhos. “O meu maior desejo” coloca em cena uma família de pais separados e o desejo a que o título português se refere: a reunião do pai e da mãe, se os filhos conseguirem observar dois comboios de alta velocidade a cruzarem-se num ponto preciso da paisagem… Entenda-se a diferença radical, a um tempo didática e política: estamos no exato oposto da formatação telenovelesca e também longe de qualquer “sociologia” moralista. Kore-eda filma a magoada solidão dos filhos, sem por uma vez falhar os seus momentos de alegria e rebeldia. O título original (“Kiseki”) refere-se a um “milagre”. E não é apenas a recomposição do casal que está em causa. É também a magia discreta das emoções que passam, por vezes com efeitos de suave apaziguamento. O cinema, enfim, não deve temer a sua própria vocação milagrosa.

dvd “O meu maior desejo” [“Kiseki”], de Hirokazu Kore-eda, com Koki Maeda, Ohshiro Maeda,…
Leopardo Filmes, 2011 / 2013

João Lopes

 

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