Doodles

“Ninfomaníaca, vol. 2″, de Lars von Trier

Advertisements

Estreada a segunda parte da odisseia sexual de Lars von Trier, confirma-se que há qualquer coisa de gratuito e também (peso as palavras) de doentio no facto de este ser um filme socialmente consagrado como uma apoteose do “visível”. O subtexto que o tem acompanhado é qualquer coisa como: “Ninfomaníaca” dá a ver coisas nunca vistas… Cruel ironia: a pornografia reinante, todos os dias sancionada pelas práticas de “entretenimento” do “Big brother” e outros horrores televisivos, impôs a noção de que “dar a ver” (o que quer que seja) corresponde a aceder a uma verdade imediata, absoluta e incontestável. Que se mascara nessa contínua lavagem de imagens? Pois bem: o metódico enfraquecimento da palavra e, por consequência, a desvalorização prática e simbólica da escrita. “Ninfomaníaca” é uma “pièce de resistance”. Literalmente. Nele se consagram os labirintos da fala e, mais do que isso, de uma fala enunciada no feminino. A personagem de Charlotte Gainsbourg pertence, por isso, a uma galeria de heroínas trágicas em que von Trier já tinha inscrito a desesperada Björk (“Dancer in the dark”, 2000) ou a transparente Nicole Kidman (“Dogville”, 2003) — uma vez mais, a arte de representar define o risco deste cinema ferido pela decadência espiritual do seu/nosso tempo.

João Lopes

30 janeiro [estreia nacional]
filme “Ninfomaníaca, vol. 2″ [“Nymphomaniac, volume 2”], de Lars von Trier, com Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Stacy Martin, Jamie Bell, Shia LaBeouf, Willem Dafoe,…
Leopardo Filmes, 2013 / 2014

 

Advertisements

Advertisements