A lista de autores e artistas, oriundos de diversos campos estéticos, que criaram extraordinárias e inesperadas obras em formato pop up, com ou sem texto, é já extensa e respeitável. Os fãs do livro pop up organizam-se em clubes e sociedades (como The Movable Book Society, fundada pela bibliotecária Ann R. Montanaro, em 1992). O livro pop up pode finalmente constituir, mesmo em meandros académicos, um tema de investigação legítimo e interessante. Atualmente, a capacidade de reinvenção material do objeto “livro” permite perspetivar, classificar e arrumar essas construções criativas, aproximando-as do ato da leitura convencional e/ou da criação plástico-arquitetónica. Por outro lado, este tipo de livro possui o mérito inegável de derrubar com ligeireza os tradicionais emparedamentos causados por catalogações comerciais mais ou menos apressadas, cingindo-os a destinatários infantis ou colando-os a reducionismos pseudo-pedagógicos. A engenharia de papel de “Popville” (Bruaá, 2010), obra de estreia de Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, pode considerar-se minimal, por oposição, por exemplo, à exuberância decorativa e mecânico-arquitetónica de outros artistas como Marion Bataille (veja-se “A B C 3D” ou “10”), Jan Pienkowski (“The haunted house”), Edward Gorey (com o gótico macabro de “The dwinling party”), Robert Sabuda (“Dinosaurs” ou “Chanukah lights”) ou Olivier Charbonnel (“Je vous écris de Versailles”). A sequência cumulativa do crescimento da cidade – note-se as ideologias subjacentes, complementares ou contraditórias: apologia da construção urbana ou da ecologia? – é relativamente óbvia, ainda que sabiamente concebida e passível de múltiplas abordagens e manipulações interpretativas, do simples maravilhamento aleatório à leitura do fim para o princípio. Se o maravilhamento é o mesmo perante a exuberância plástica e a técnica, o desafio conceptual surge a outros níveis e as leituras tornam-se mais convencionais na segunda obra da mesma dupla, “Na floresta da preguiça”, agora lançada em tradução portuguesa pela Bruaá.
livro “Na floresta da preguiça”, de Anouck Boisrobert e Louis Rigaud
Bruaá, 2012
Paula Pina:
Esta é uma obra panfletária também, um repto direto à ação, pela frontalidade com que nos obriga a refletir sobre a factual vulnerabilidade e tenebrosa devastação da fauna e da flora da floresta amazônica. Contudo, não deixa de oferecer, no espanto final do renascimento, no mágico desdobramento do possível, uma mensagem de esperança. texto no Cria Cria